O estudante de engenharia Alisson Quinaia, de 27 anos, pega a estrada de Campinas, no interior de São Paulo, rumo à capital todo domingo a noite, para assistir as aulas da Universidade Federal do ABC. Volta para casa na sexta-feira. No percurso, não costuma faltar companhia. Ele oferece caronas, por meio de um aplicativo, para dividir custos. “E também para aliviar o cansaço da viagem”, diz. “Vou conversando. Conhecendo pessoas novas”.
Ele é um dos usuários da Tripda, plataforma de caronas criada por empreendedores brasileiros, que entrou no ar em maio. No prazo de seis meses, a empresa adquiriu as concorrentes Caronas.com, criada por alunos de engenharia agronômica da USP, em Piracicaba (SP); e o UniCaronas, desenvolvido por dois estudantes de engenharia da computação da Unicamp (SP). Com as aquisições e a estratégia de expansão, chegou a 50 mil usuários.
A empresa levou suas operações para outros dez países, na América Latina (México, Colômbia, Argentina e Chile), Ásia (Cingapura, Filipinas, Malásia e Taiwan) e Estados Unidos. A maioria dos mercados são emergentes, onde o desenvolvimento econômico ampliou a demanda por soluções de mobilidade.
A chegada aos Estados Unidos é justificada pela dimensão territorial e pela possibilidade de crescimento, diz o cofundador Eduardo Prota. Nos planos da Tripda estão ainda o início de atividades no Uruguai e em quatro países asiáticos até dezembro.
“A capacidade estava disponível. Faltavam plataformas para conectar as pessoas”, diz Pedro Meduna, presidente da Tripda, empresa de economia compartilhada do grupo alemão de investimentos Rocket.
Os primeiros aplicativos de caronas foram desenvolvidos no Vale do Silício, referência em inovação tecnológica dos Estados Unidos. Ali nasceu o Uber, para colocar passageiros em contato com motoristas profissionais, que cobram cerca de 30% a mais que um taxi comum por uma corrida mais confortável. O aplicativo americano chegou ao Brasil em maio, estabelecido no Rio e em São Paulo, mas ainda não foi homologado pela prefeitura de São Paulo, por ameaçar a regulação do serviço de taxis.
“Diferentemente do Uber, os sites de carona representam uma maneira mais estruturada de compartir custos de viagens com outros passageiros, algo que já acontecia”, defende Meduna. A empresa, que ainda não gera lucro, diz estar focada na popularização do serviço.
O polegar para cima pode até ser o símbolo universal da carona, mas, para empresas de tecnologia, a aposta é que, daqui a alguns anos, as pessoas vão preferir deslizar os dedos sobre a tela do smartphone para compartilhar uma viagem de carro. “Os maiores concorrentes são as redes sociais”, afirma Meduna. O foco em grandes distâncias afasta a empresa da concorrência com taxis, segundo ele.
Dividir um automóvel ou um cômodo de casa com desconhecidos faz parte do modelo de economia compartilhada, que criou empresas bilionárias e tem gerado protestos – de taxistas até grandes redes hoteleiras.
Há duas semanas, o presidente mundial da francesa Accor, Sebastién Bazin, anunciou um investimento de € 225 milhões para transformar o celular em ferramenta para encontrar hotéis, fazer reservas, planejar viagens e pagar contas. A empresa sentiu o baque do site de hospedagem Airbnb, com mais de 20 milhões de usuários dispostos a se hospedar na casa de estranhos em 190 países.
O Uber, aplicativo de caronas avaliado em US$ 20 bilhões, opera em 128 cidades de 37 países. No Brasil, enfrenta a oposição de taxistas e de autoridades, pela concorrência desleal. Seus motoristas não precisam de regulamentação e não pagam por licenças de uso.
A Easy Taxi, startup brasileira dona de aplicativo de mesmo nome, já recebeu quatro rodadas de aportes de investidores em três anos, em um total de R$ 145 milhões, e também avança rapidamente. O serviço de taxi está presente em 32 países e deve chegar a 50 até o fim do ano. Valor Econômico | Leia mais em antp 17/11/2014
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