Ascenty investe em centros de dados e vai abrir capital em 2015

Depois de experimentar o setor de TV por assinatura e criar a Vivax, segunda maior operadora a cabo do Brasil, vendida em 2006 para a Net Serviços, o americano Chris Torto voltou para os Estados Unidos e começou a pesquisar novos negócios. Descobriu na ocasião que o Brasil só contava com três centros de dados que garantiam qualidade de serviço, enquanto nos EUA eram mais de 300. Daí a decidir apostar no segmento foi um pulo.

Desde 2010 já investiu US$ 100 milhões no Brasil, onde tem dois centros de dados em operação, dois em construção, uma quinta unidade prevista para ser inaugurada no fim de 2015 e outras três em planejamento. O custo médio de cada um é de US$ 75 milhões.

O novo negócio foi criado sob a Ascenty, empresa brasileira que Torto fundou com o fundo americano Great Hill Partners, seu antigo sócio na Vivax, e preside. Ambos detêm a maioria do capital. Levantaram mais US$ 70 milhões em aportes de investidores e também lançaram R$ 350 milhões em debêntures pelo banco Itaú BBA, com vencimento em 2020. Com base nos contratos atuais e todos os centros de dados funcionando, a receita da empresa está projetada em R$ 500 milhões por ano, dentro de dois anos.

O próximo passo será a abertura de capital na BM&FBovespa, em meados de 2015. A oferta pública inicial de ações será conduzida pelo Itaú, mas os detalhes sobre a operação só serão decididos em dois meses, disse o executivo. A entrega do prospecto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está prevista para abril.

Torto conhece bem a dinâmica da política econômica local. Está no país há 26 anos, tem mulher e duas filhas brasileiras e divide sua residência entre San Francisco e o Rio de Janeiro, já que as pequenas Sophia, de 12 anos, e Julia, 8, estudam nos EUA e passam as férias no Brasil. Mas o caminho não foi fácil. Disse que “bateu a cabeça” muitas vezes para entender como o Brasil funciona. “Os grandes players lá fora não entendem que lei têm de seguir aqui, não falam a língua portuguesa”, comparou.

“Mesmo com a economia estagnada, vejo muita demanda no mercado brasileiro”, diz o executivo. “É o melhor momento para investir. Temos incerteza política, problema de geração de energia, de falta de água e de planejamento. Então, só resta melhorar.” Torto também se apoia no crescimento do mercado de dados. Como o número de smartphones cresce fortemente e os consumidores usam muitos aplicativos, isso requer mais capacidade em centros de dados para suportar todo o tráfego gerado. Entre seus clientes estão gigantes mundiais de software, conteúdo e serviços.

Para não depender das operadoras de telefonia, a Ascenty criou sua própria infraestrutura, com licença de serviço de comunicação multimídia. A rede de dados tem 3 mil km de fibras ópticas, com projeção para expandir para 4 mil km em 2015. Oferece comunicação nacional e internacional em 20 cidades da Grande São Paulo.

Ao todo, 250 empresas de médio a grande porte usam a rede da Ascenty, inclusive 20 operadoras de telefonia para atender aos seus clientes no trecho final que chega aos domicílios. Essas operadoras alugam de 2 a 10 gigabits por segundo, para oferecer serviços de voz e de maior valor, disse Torto. Além disso, faz hospedagem de equipamentos e sistemas de grande produção, gerenciamento de bancos de dados, entre outros.

Agora, a Ascenty está construindo outra rede independente em Fortaleza, com 150 km de cabos, para interligar com a rede de cabos submarinos internacional que chega à capital do Ceará. A rede da Ascenty se integrará com todas as operadoras, de modo que o cliente poderá escolher quem será o seu provedor.

O executivo disse que os centros de dados têm três níveis de redundância e são classificados como Tier III pelo Uptime Institute. Operam com sua própria subestação de energia, em Jundiaí, São Paulo.
Pietro Delai, gerente de pesquisas da IDC Brasil, disse que existem 25 centros de dados no país classificados como Tier III pelo Uptime e apenas um par certificado como Tier IV, o mais alto nível no Brasil. Em níveis inferiores há centenas deles. As classificações comparam funcionalidade, capacidade, complexidade e a esperada disponibilidade do centro de dados.

Em 2015, os serviços em nuvem poderão movimentar US$ 800 milhões, estima Delai, com crescimento de 50% ao ano. Isso aliado à forte penetração de smartphones e de seus aplicativos requer cada vez mais capacidade em centros de dados. Para o terceiro trimestre, a projeção é de 14 milhões de smartphones no Brasil, com um total de 70 milhões no ano, calcula o IDC. Valor – Ivone Santana – Leia mais em Telcomp 28/11/2014

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