A Alcatel-Lucent Enterprise, divisão da companhia franco-americana voltada ao mercado corporativo, está passando por uma transformação radical de estratégia e objetivos. A entrada da chinesa Huaxin como investidora e agora acionista com 85% do capital é parte do processo, mas não o fator determinante. “Já tínhamos nosso plano desenhado e para que ele se viabilizasse precisávamos de um investidor forte”, disse o presidente mundial da Alcatel-Lucent Enterprise, Michel Emelianoff, em entrevista a este noticiário.
“Em muitos mercado, como o Europeu, estamos entre os três maiores fornecedores para o segmento de telecomunicações corporativas. Na França temos mais de 40%. Mas queremos estar entre os três primeiros em escala global”, disse Emelianoff. A prioridade é, agora, ampliar a atuação no mercado chinês, na Rússia, Estados Unidos e América Latina, principalmente Brasil, México e Argentina. Isso significa ampliar presença e investimentos em pessoal.
Investimentos
O problema da divisão de Enterprise é que, quando o grupo Alcatel-Lucent definiu seu plano de crescimento há cerca de dois anos, estabeleceu prioridades que não incluíam os investimentos necessários para o desenvolvimento de tecnologias e serviços voltados ao mercado corporativo. Para a Alcatel-Lucent restava a opção de se fundir ou ser comprada por algum concorrente, o que certamente tiraria tempo da empresa; ou buscar financiamento na forma de private equity, o que poderia aumentar o financiamento; ou conseguir um novo acionista que estivesse disposto a fazer os investimentos. Foi aí que buscaram a Huaxin, grupo chinês que hoje administra cerca de 1 bilhão de euros em ativos e tem investimentos em outras empresas de tecnologia, com a característica de não interferir na gestão e na estratégia das companhias. “Seguimos como uma empresa europeia, adotando os padrões de governança e transparência exigidos na Europa e com a nossa base em Paris”, diz Emelianoff. A diferença é que agora há cerca de 300 milhões de euros para investimentos garantidos pelo novo acionista.
Os outros 15% do capital seguem com a divisão de redes da Alcatel-Lucent, com quem a Alcatel Lucent Enterprise manterá laços, sobretudo no desenvolvimento de tecnologias, mas de forma cada vez mais independente. “Agora seguimos o nosso caminho”, diz o presidente. O plano de abrir o capital da empresa nos próximos cinco anos existe, mas depende dos resultados da estratégia atual.
Cloud é prioridade
A estratégia da Alcatel Lucent Enterprise é focar em algumas áreas: educação, hotelaria, saúde e governo. Em todas, um traço comum: cloud. A empresa espera ter nos próximos anos entre 15% e 20% vindos de serviços prestados na nuvem. Isso significa vender menos equipamentos e mais serviços. “Estamos focando nossa estratégia para priorizar não a venda imediata ao nosso cliente, mas o resultado que ele possa ter”, diz Emelianoff. O que isso significa exatamente? Significa que os modelos de negócio da Alcatel-Lucent Enterprise, hoje baseados principalmente na venda de equipamentos por meio de parceiros e canais pode mudar, com a remuneração vinculada aos resultados e à experiência final oferecida. Por exemplo, diz ele, uma rede hoteleira pagaria os serviços de telecomunicações apenas quando o hóspede efetivamente usar. “É uma mudança de modelo, indo do tradicional modelo de Capex para um modelo de remuneração por resultado”.
Para que isso aconteça, explica Emelianoff, é fundamental uma mudança na mentalidade dos parceiros e nos canais de distribuição. “Tudo o que fazemos é por meio dos canais. Não fazemos venda direta. São esses parceiros que estão e vão continuar na linha de frente. Por isso eles precisam entender e participar dessa estratégia”, diz, reforçando que muitos já estão passando por esse processo de mudança cultural.
Para Emelianoff, o mercado de enterprise tem algumas características diferentes que de certa forma protegem o modelo atual contra novos players, como Google e Amazon. “No mercado de enterprise, a proximidade e o conhecimento de detalhes da atividade do cliente é essencial. Não existe uma solução que atenda a todos da mesma maneira”, diz ele, estabelecendo uma diferença entre o mercado corporativo e o mercado residencial, explorado pelas grandes teles. Ele ressalta, contudo, que vê empresas como o Google como promotoras de grandes mudanças e desenvolvedoras de conceitos importantes. “Eles atuam em cloud há muito tempo. É importante que eles tragam essa cultura ao nosso mercado”.
Do ponto de vista de tecnologias, ele diz que o Wi-Fi tem sido hoje a tecnologia de rede capaz de criar as maiores evoluções no segmento corporativo, junto com redes inteligentes, do tipo Software Defined Networks (SDN), que conseguem se reconfigurar automaticamente em função do perfil de uso e das aplicações. Para o presidente da Alcatel Lucent Enterprise, o problema para o uso de equipamentos e tecnologias voltadas para teles em empresas, como femtocells e smallcells, é quem é que faz o investimento. “Nenhuma empresa vai investir em algo que ela julga ser uma atribuição da prestadora de serviço, e garantir cobertura dos sinais de celular é uma atribuição das teles”, diz ele. Samuel Possebon | Leia mais em tiinside 23/10/2014
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